Ló Leila Diniz diz tudo!
As manifestações culturais batem na
nossa porta, entram pelas janelas, atravessam pontes. Nem precisamos nos
preparar, nascemos preparados para andar por aqui e por ali. Olinda como sempre
com a energia de cidade interiorana mesmo tendo zilhões de formiguinhas
passeando. Passei o fim de semana pós carnaval na cidade alta, curtindo o vazio
dos paralelepípedos, observando a hora para não ficar sem cigarro. O mesmo
bêbado na esquina, os mesmos meninos e meninas, aquelas casas, histórias.
Depois de três dias seguidos nas Holanda, nas ÓhLinda, subindo e descendo
ladeiras em plenetéreo carnaval, foi reconfortante abraçar a panaceia.
Os cantos, os risos, o rufar alfaias,
trompetes, trombones, das laias, dos sinos. Os cheiros cheios de cores, cheios
de amores. As sincopes arriscadas no meio da massa, os encontros e desencontros,
ainda ecoam e os momentos vêm. Livres e apegados às máscaras, fantasias se
confundem e se entrelaçam. Saí de fada e realizei desejos de outros, outros,
desejos meus. Encontrei no ar chaves perdidas, margaridas de bem com a vida. O
Educandário das Moças Libertinas continuará aberto, podem se matricular
conosco, inclusive os moços. É preciso ser muito liberta para ser, sempre, você
mesma, dentro do bando, do mangue, do transito. É preciso se desapegar, sonhar,
ousar, seguir o coração, acreditar, amar, fazer, doar.
Um dos momentos mais sublimes, graças
ao Salvador foram muitos, se deu no casario do Barão de Olinda… Olá, Junio! Ele
me pediu um abraço, e eu, em êxtase, pedi uma música. A voz de Junio Barreto
ainda está no meu ouvido, como a minha mão no seu ombro: “Teu corpo luava ouro/
Nos banhados que a chuvinha fez// Nas lavadas que ramalha flor/ Nos setembros
de chegar//Tu reinas vasta nas cheias de cada maré/ És flecha soltada do aroma
da mata/ Clareia dos olhos, candeia medonha// Jardim elétrico, pelo pedrado da
rua/ Vens doce bela, bem vinda/ Na minha casinha morar”. A poesia musicada
desse ser é doce, sedutora, marcante, máscula. Sou super fã. Você não conhece a
música de Junio? Mentira! Saca essa resenha feita com todo prazer por mim e Daniela
Galdino e ouça o som. (http://www.revistazena.com.br/revistazena/materia/nos-setembrais-de-junio-barreto/).
Falando nela, peça rara no carnaval da minha vida, esbaldou a sua graça,
trouxe uma felicidade límpida para os meus dias. Apesar das opressões e ironias
mesquinhas, Daniela deu um show de singularidade. Lorenza Mucida, outra sereia
marginal de Itabuna, a la Leila Diniz, me matou de orgulho, em todos os
sentidos. Faltou só a minha irmã arredia, Diana Cavalcanti, e toda a sua
impetuosidade largada, natural, ancestral. Amo essas moças como amo a minha
vida, e todas as discrepâncias, jeitos, olhares, momentos... Larguei Daniela
para ficar em Olinda, que largou Lorenza para ir ao destino, que Lorenza largou
para viver a vida, que Diana largou para ficar sossegada. Felizes ou prestes a
ser.
Está tudo escrito. Encontrei um ex que me deu gás para
entrar na noite da segunda de carnaval, se não fosse por ele, depois de Olinda, eu tinha ido pro berço. Ao me ver, perguntou aflito: “Estais morando fora, sua
sumida?!”. Estou. Lá no grogotó da Chapada, no meio do mato, usando a imaginação
para escrever um livro de ficção científica. Adoro contar mentirinhas no carnaval, detalhe. A minha irmã
Cami, o nosso carretel deslizante, rodopiante, soube dos gêmeos de Gueu por
Manaíra. Ana Maria me ligou todos os dias. Liguei pra Gôda, lembrei de Leda, do carnaval passado. Felipe e Marina ficaram preocupados. Tão lindos! Descansei as pernas no sofácama do Quintal Coletivo, na boníssima companhia da
turma de Garanhuns. Leo! Fernanda! Chico! Katarina! Eliberto! Depois levantei,
flutuando como água viva, altiva como um papangu, fui ver os olhinhos do meu
amor.
Lirinha, eu adoro dar mordidelas na minha língua, és o meu eterno visgueiro. Há cenas de carnavais inesquecíveis, só uma memória aguçada fixa. Numa delas, o Cordel do Fogo Encantado, em 2001, ainda na Rua da Moeda, subiu em cortejo no palco. Atravessar as estradas empoeiradas do Sertão ouvindo você resignifica tudo, como é com Joãozinho do Exu, Gonzaga, Joquinha. Ouçam “Espelho das águas do Itamaragi” de Gonzaguinha. “Ducontra”, “Ela vai dançar”, “Nada a fazer” e “Eletrônica” são as minhas preferidas do disco novo de Lirinha. O show no Rec Beat de 2012 me fez pensar que eu não havia entendido bem o seu recado. Fui à loucura ao sentir “Sistema Lacrimal”. É fato, a presença de José no palco é contagiante, senti falta dessa energia na gravação do cd, mas depois de vê-lo, as nuances se revelaram. A luz veio bater cá, lá, dó, sol. Vamos deixar a tristeza e engatar a primeira nas curvas da vida. Transformaria, apenas, Memória em anagrama. Acabei perdendo a máscara e a vergonha no final da noite. Obrigada.
Ver e ouvir a passagem de
som das ferinhas, na tarde da sexta de carnaval, com mote em Alceu foi inesquecível. Otto cantou a minha
música, aquela sobre a onça pintada e o tiro certeiro, sabe? Pertinho ou com a
chuva caindo, carnaval da gota grande bom e sereno. Criolo, silencioso,
contemplava os prédios antigos, inalava o cheiro da maré, da nossa cultura.
Maestro Spok, Catatau, Pupilo enxerido, tirou até a camisa. Nem ia comentar
isso, mas uma amiga de trabalho, preciso preservar a identidade dela, moça séria, noiva,
rsrsrs, confessou que ficou louca quando Seu Jorge tirou a camisa. “O bicho tem
um ziriguidum”, disparou. uhuhuhuh Adoro! Sempre liberava um namorado baterista que tive.
Tire, amor, tire a camisa, a desculpa é o calor. José Teles, tire também um desconto. O show foi do canário!
“Dentro do mar, o céu é lindo… Dentro
do céu, o mar é lindo… Dentro do mar, o céu é lindo… Dentro do céu, o mar é lindo…
Dentro do mar, o céu é lindo… Dentro do céu, o mar é lindo… Dentro do céu, o
mar é lindo… Dentro do mar, o céu é lindo…”. Gosto de mar na boca, gosto de amar. Ficaram vários mantras…
várias caras. Carnaval cura, silêncio cura. Festa da Lavadeira tá chegando, dia 1º de maio. O menino levou o sino
de fitas coloridas da papangu, feliz com a lembrança, porém, o coração
desenhado na bunda da menina ainda está intacto.
até a próxima!
=D
Revivi Recife, Olinda e as gentes encontradas - escancaradamente - pelas ruas, pelos becos... Belo Texto
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