A quintessência da Fliporto



Sereias Marginais no Sarau da Lua

A Praça do Carmo, em Olinda, ficou pequena para a VII Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto). Nesta edição, o evento inaugurou o espaço Fliporto Nova Geração, Sebo Armorial, Porto da Poesia e Palco das Artes. No ano passado, falei do borbulhar ocasionado pela mudança para Olinda, a cidade realmente sentiu a poesia, a literatura atravessou pontes e subiu ladeiras.
Para confirmar essa elevação, Deepak Chopra nos falou, na abertura das conferências (11), sobre a consciência da natureza humana. De acordo com o pesquisador - tido como guru por muitos, o corpo físico se renova todos os dias, provocando, assim, um dilema espiritual (corpo físico X corpo mental). “O nosso corpo é a confluência da poeira das estrelas e da consciência. A consciência é a chave. A ação no amor é poderosa”, filosofou como se dissesse o placar de um jogo, depois confirmou com dados de biologia e física quântica. E questionou: “De onde surge o pensamento e para aonde eles vão?”.
 Sobre o 11.11.11, Chopra acredita que o significado é o que queremos que seja, mas de uma forma geral, as manifestações recentes no mundo demonstram a energia do momento – ‘O mundo é uma célula viva pulsante’, escrevi na última capa da Revista Zena, título inspirado no amigo Capra. O guru americano também lembrou a importância de ter o sentido Yoga nas nossas vidas: SER/SENTIR/FAZER. E nos convidou a entrar silenciosamente na alma por meio da meditação. Saí da palestra leve, leve, mas com uma frase de Deepak para os amigos poetas que iria encontrar no Terraço de Olinda, lindo bar e ateliê de Marisa: “Infelicidade existencial gera arte, poesia, literatura”.
Alice Ruiz nos falou sobre as particularidades do haikai: simplicidade, supressão do eu, apaziguamento do ego. Joumana Haddad nos apresentou o livro “Eu matei Sherazade – Confissões de uma árabe enfurecida” e comentou inflamada: “Precisamos nos enfurecer, nos indignar diante das injustiças do mundo”. A editora Carpe Diem lançou um livrinho lindo com as cem melhores poesias do concurso TOC140 da Fliporto no Twitter. Entre os destaques, “Tempestade”, de Lidiane Carvalho, Feira de Santana (BA), “Felicidade”, de Rubeneide Araújo, Arcoverde (PE), “Romper”, de Juan Salazar (SP).
As revelações do circuito alternativo, tanto novas, quanto experientes, como os poetas José Inácio Vieira e Malungo, foram imprescindíveis. Malungo publica a fanzine trimestral “De cara com a poesia” desde 2002 - produção independente e distribuição gratuita. Na Casa de Hilton, ouvi o tema da Fliporto, “Uma viagem ao Oriente”, na apresentação da banda Mantra Reggae. O evento acontece há sete meses, todo segundo domingo do mês, na Rua do Sol, com recitais e intervenções artísticas. O Sarau da Lua, promovido pela turma literária de Garanhuns, teve como ponto alto a apresentação das Sereias Marginais, trupe nascida de um improviso no Alt. Fest! Fliporto por Daniela Galdino (BA), Lorenza Mucida (BA) e Diana Cavalcanti (PE).
O II Alt. Fest! Fliporto, patrocinado pela Fliporto e Prefeitura de Olinda, é um evento colaborativo e acontece em dois pólos. Na Oca das Artes, Mirante da Ribeira, onde o verbo correu nu e penetrou nas cidades. E no Terraço de Olinda, onde conheci Mané do Café (RJ) e os seus cigarros poéticos, no qual “inalei” Victória F.: “No teu embalo maternal/ O relógio secular, solene/ Ressoa a cada seis minutos a hora/ E a estranheza de nunca haveres/Nunca/Perguntado o meu nome”.

Cortejo na Praça do Carmo

Saramago na cozinha de Hilton, Firmino Rocha no Sarau da Lua, Álvaro de Campos na Igreja da Boa Hora, Corujão da Poesia e Poetas Del Mundo em cortejo na Praça do Carmo, os Sussurradores de Poesia de Caruaru. “O primeiro poema, “O Mar”, recitei em homenagem a Lula Côrtes. Depois saímos pelas ladeiras recitando toda poesia do mundo. Celebramos a vida como se ela fosse uma taça de champagne. Muito sentimento e improviso, deliciosas discussões, inteligência fazendo cócegas no juízo”, comentou extasiada a poetisa e atriz Diana Cavalcanti.

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