Minha fênix, tua dor.


Os verdes vales foram esquecidos. As flores sentem por não serem regadas e choram em silêncio a falta do pai. Aquele olhar amoroso se perdeu no tempo, assim como o gosto das frutas compartilhadas. A árvore vistosa em cima do monte, ainda bela, agora é poeira por dentro. De longe parece tão forte, mas tem raiz fraca, como o Tritão perdido, pobre bandido de si. Ostenta o ouro que não lhe pertence, se vangloria com glória que não existe. Rouba de si o que não soube ganhar. Que culpa tenho eu e o pobre destino? Culpa a ti próprio, por não saber lutar pelo amor. Culpa a ti próprio, por cair nas armadilhas da vida. Culpa a ti próprio, por chegar tão perto e fraquejar.
Volta a encarar o visgueiro assombrado, deixa o medo de lado, lamentos não sanam a dor. Esquece o gosto amargo do vendaval que passou, o inverno vem vindo, para que tanta magoa? Queres me afundar nas tuas lágrimas, se for preciso vou ao fundo do poço, mas cospe o teu rancor. O que esperas de mim? Não esperas? Então fecha de vez tua janela, mas antes dá um adeus e apaga a luz que restou.
Aprende a ressurgir das cinzas Tritão perdido, apaga as lembranças dos campos devastados, do capim inflamado, da guerra que reinou. Não deixas que a minha fênix seja a tua dor.

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