Quero Ser Primavera

"Sinto saudade do tempo que não existiu para nós.
Saudade dos teus olhos que não me viram passar.
Saudade do carinho que não veio de você.
Do encontro que tivemos e não nos encontramos.
Sinto saudade até da saudade que não sentimos.
Davida que não vivemos.
Quero ser peimavera.
depis morrer.
Só o silêncio é sincero"


Augusto Junqueira

Nada é coincidência.
Não foi por acaso que o nome “Quero Ser Primavera” apareceu para mim. Nem por coincidência que a empresária Maria Junqueira, mãe de Augusto, leu emocionada o último texto do caderno de capa preta do filho, enquanto o esperava numa madrugada sem fim. Não desejo que meus dias terminem como o de Augusto, que foi morto pela Polícia que Mata, mas Quero mesmo Ser Primavera, sempre. Seguindo o exemplo de coragem e força demonstrado por Caco Barcellos, durante as apurações do livro Rota 66, A História da Polícia que Mata.




Um novo olhar ou o olhar certo? Caco Barcellos, em Rota 66, com certeza nos proporciona um horizonte que vai muito além do que costumamos ver, ler, a maneira de enxergar e reportar fatos fidedignamente – como deve se dar dentro do jornalismo.
A questão, no livro, vai além de se posicionar contra ou a favor da polícia brasileira. Caco adentra no real, consegue nos mostrar visivelmente os lados da moeda e as vidas que por trás de fatos se escondem – diferentemente das reportagens convencionais, em transmissões de notícias superficiais. Isso lhe custou muito, afinal, o monopólio de poder no nosso país é preponderante, mas Caco Barcellos persistiu, como diz no livro: “No dia seguinte, três anos depois de virar repórter, eu estava de volta à antiga profissão. Sou novamente motorista de táxi, ou melhor: Repórter provisoriamente na praça”. Confirmando, corajosamente, o amor pela profissão repórter, que sempre o acompanha nas suas reportagens.
Rota 66 foi um livro inovador, uma grande reportagem que abalou os alicerces da Polícia paulista, herdeira da violência e das práticas de torturas apreendidas em 1964, quando a PM tinha “todo o poder” de usurpar das vidas dos mais fracos, dos oprimidos socialmente. O livro é um relato, uma reportagem ousada sobre o comportamento da polícia de São Paulo. É o que muitas emissoras e jornais de todo o país deixaram de explicitar de forma clara, o que ficou de fora nas coberturas policiais da época. Rota 66 é o que foi censurado pelas empresas jornalistas, o que não entra nas páginas dos jornais, é acima de tudo, uma reflexão sobre os bastidores do cotidiano de gente da gente que sofrem com os crimes de uma polícia caduca, preguiçosa, criminosa.
Mérito deve ser dado à Caco Barcellos, pela sua notável coragem, ousadia, experiência e competência profissional averiguados durante a leitura de Rota 66, A História da Polícia de Mata.


Belisa Parente



*Sinto saudade de alguém que ainda não apareceu, saudade parecida com a de Augusto.

Comentários