I



Quando éramos mais novas, e conversávamos abertamente sobre tudo, ela transparecia que seria a última a viver longamente um amor, a provar da comunhão de corpos e tudo mais que uma relação amorosa proporciona. A maternidade passava longe dos seus anseios juvenis. Ana Maria parecia Marketa de Kundera antes de conhecer Karel – o caçador irresistível. Liberta, solta ao vento, não deixava homem algum a oprimir. Carregava no peito a coragem de enfrentar uma interminável solidão, e encarava as paixões com uma leveza invejável.
Corria solta no pasto, desembestada, mas nunca era a presa. Conduzia sua vida como uma boa jogadora de xadrez fazendo o jogo perfeito. Doce nos momentos certos, nunca deixava açucarar. Macia quando pegava um couro duro. Sedutora como Touch Me de The Doors, mesmo sem conhecer a canção. Maria Bonita quando queria mandar partir.
Dizem que cada primavera tem um sabor diferente, algo mais fica, amadurece dentro de nós. Não há como negar que o tempo é o elixir da vida - mesmo que para alguns a vida demore a fazer sentido, efeito. Outros se descobrem por experiências casuais onde o final da estória é inimaginável. E há todo um meio termo. Somos também responsáveis pelo nosso caminho, por um novo dia, por aquilo que queremos ser. É certo que forças superiores atuam no nosso destino, assim como a lua dita as marés, há todo um poder maior agindo sobre nós. Quando estamos abertos a isso e não atropelamos as primaveras, invernos, verões, tudo fica mais bonito.

...

Comentários

  1. É incrível como essas tais primaveras verdadeiramente transformam tudo que vem a sua frente. Você se expressa muito bem e faz quem lê se projetar no texto que está lendo. Parabéns inclusive pela coragem de ser tão transparente (acredito)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Eaí?